terça-feira, 15 de maio de 2018

Especial Kung Fu Panda | Os 10 anos da animação da DreamWorks

Entenda o processo criativo de um dos grandes sucessos do estúdio



Faz 10 anos desde que Kung Fu Panda fez sua estreia no Festival de Cannes. Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, a DreamWorks Animation apresentava Po, um urso panda desastrado com a difícil tarefa de se tornar um mestre de artes marciais para proteger o vilarejo onde morava. Sucesso de bilheteria, a animação logo conquistou uma legião de fãs e se tornou um dos grandes filmes do estúdio. Mas, para criar o personagem e todo o seu universo, foram anos de trabalho.

O ponto de partida foi uma ilustração do artista Christophe Lautrette, na qual um urso treinava Kung Fu usando vestes douradas. “Ele tinha um olhar que parecia autêntico e verdadeiro, considerando um mundo em que animais andam por aí em robes”, afirmou o designer de produção Raymond Zibach ao museu australiano ACMI.

Esta arte, junto com um dos trabalhos do designer de personagem Nicolas Marlet, que mostrava como seriam os habitantes do Vale da Paz, definiram algumas das formas e das características que queriam em Po. Surgiam, então, os primeiros esboços do Kung Fu Panda. Confira abaixo:

 
 

 






O processo de criação do personagem não foi fácil e o urso só tomou forma de verdade com a escalação de Jack Black para dublá-lo. Segundo Zibach, a presença e o humor do ator e comediante foram essenciais para entender quem era Po e definir quais seriam suas expressões, principalmente com base nos movimentos que ele fazia com as sobrancelhas. "A personalidade de Jack Black começou a aparecer rapidamente no storyboard. Deu para entender o tipo de personagem que precisávamos."


A ideia, explícita no título da animação, sempre foi unir dois elementos que, ao menos no primeiro momento, não pareciam combinar. "O grande conceito era 'como seria se Akira Kurosawa filmasse Jerry Lewis?’", contou Mark Osborne, um dos diretores da animação, à EW na época do lançamento. Logo, acertar no tom do humor, na ação e na caracterização da cultura oriental eram tarefas primordiais para que o filme desse certo.

Por isso, Osborne e seu parceiro na direção, John Stevenson, fizeram questão que os profissionais envolvidos no filme fizessem um workshop de Kung Fu. Foram cinco horas de treinamento, entendendo as posturas e os movimentos que os personagens teriam que fazer. "Dissemos [ao instrutor] 'não pegue leve com a gente, porque queremos saber como seria se alguém que não soubesse nada sobre Kung Fu realmente fosse jogado nisso'", disse Stevenson.

Felizmente, eles também trabalhavam com o supervisor de animação Rodolphe Guenoden, familiarizado com as técnicas de outra arte marcial, o tae kwon do. "Ele consegue coreografar lutas, por isso parece tão autêntico", afirmou Zibach, em entrevista ao site AWN. "Ele trabalhou com o artista responsável pelo storyboard e fez o que chamamos de 'pose-a-pose'. Ele animava um número limitado de quadros para mostrar aos animadores como essas poses poderiam ser. É por causa disso que temos cenas de ação tão boas."


Os artistas também contaram com as muitas referências da dupla de diretores, apaixonados pelos filmes de artes marciais. As produções dos cineastas Ang Lee e Yimou Zhang foram algumas das inspirações da equipe, a exemplo de Herói, O Tigre e o Dragão e O Clã das Adagas Voadoras. Mas, diferentemente das animações anteriores da DreamWorks, os filmes não seriam mencionados ou sequer inseridos num contexto de piada. Pelo contrário, eles serviriam apenas como material de base para dar mais credibilidade à ambientação e às cenas de luta.

Para brincar com o contraste entre o mundo moderno e o mais antigo, o estúdio preferiu reproduzir nos cenários o estilo da arte chinesa tradicional. “Usamos técnicas para fazer com aquele mundo parecesse vasto e etéreo, [...] mas também dar uma sensação de perigo: este é um mundo grande em que há muita coisa em risco”, lembrou o supervisor de efeitos especiais, Markus Manninen.

A tarefa se provou um desafio técnico, afinal eles teriam que pintar telas com cerca de 20 mil pixels. Mas o estúdio conseguiu executá-la com êxito, impressionando inclusive o público na China. De acordo com o Washington Post, um órgão do parlamento chinês chegou a debater por que o próprio país não fez uma animação como essa. "O protagonista do filme é um tesouro nacional e todos os elementos são chineses, mas por que nós não fizemos um filme assim?", disse Wu Jiang, o então presidente da Companhia Nacional de Ópera de Pequim, na época.


Após quatro anos e meio em desenvolvimento com a ajuda de quase 400 artistas, incluindo os dubladores, e um orçamento estimado em US$ 130 milhões, o filme chegou aos cinemas e fez sucesso não apenas nos Estados Unidos, como no mundo inteiro. Enquanto no mercado doméstico a animação fez US$215,4 milhões - a sétima maior bilheteria do estúdio nos Estados Unidos até hoje -, internacionalmente ela arrecadou US$ 416,3 milhões, dos quais US$ 26 milhões vieram da China.

O filme rendeu uma indicação ao Oscar, a oitava na história do estúdio de animação. Longe da cerimônia desde 2005, quando levou a estatueta por Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais, a DreamWorks e seu carismático panda competiram pelo prêmio de Melhor Animação contra a Pixar e a Walt Disney, que lançaram no mesmo ano Wall-E e Bolt, respectivamente. Apesar de ter superado as duas produções na bilheteria mundial - Wall-E fez US$ 533,2 milhões e Bolt, US$ 309,9 milhões -, não foi dessa vez que a DreamWorks saiu da cerimônia com um prêmio.

Mesmo sem o reconhecimento da Academia, até hoje Kung Fu Panda é uma das franquias mais bem-sucedidas do estúdio. A receita para o sucesso é simples: “não há ingrediente secreto”, como Po bem sabe. Focando no humor e na ação, sem ter grandes pretensões além de divertir, o panda e os Cinco Furiosos seguem entretendo o público em outras mídias, como as séries animadas e os quadrinhos, mesmo dez anos depois da primeira aparição nas telonas.

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